28 de jan. de 2013

O Beijo da Morte


   Dizem que em uma guerra quem morre primeiro são os pobres, mas a verdade é que em uma guerra quem morre primeiro são os jovens.

   Entretanto, na existência humana cotidiana, mas particularmente na nossa realidade brasileira, nós travamos o pior dos combates, e neste combate a morte não distingue idade.

    Nós guerreamos contra nossa inconsciência, morremos de ignorância, matamos por estupidez.

   Por que toda consciência brasileira tem que ser pós-traumática? Por que sempre choramos depois da festa?

     É porque somos diletos em cultivar nossas tragédias!

   Fazemos isso quando pensamos que a vida é uma festa. E bebemos, e dançamos, e rezamos, e esquecemos sempre na mesma proporção, e assim comemoramos nossa “farra do bode”.

   Quando fazemos uma Copa ao invés de hospitais, quando fazemos uma Olimpíada ao invés de escolas, quando nos reunimos em estádios para xingar e brigar, quando derramamos lágrimas por um time de futebol, quando dirigimos bêbados, quando combatemos crenças alheias em nossos templos, quando compramos coisas roubadas, quando levamos celulares para dentro de presídios, quando gastamos tanto dinheiro em cabelos e silicone, quando queimamos ônibus, quando massacramos animais, quando fazemos casas nas encostas, quando pomos café na veia de doentes, quando espancamos crianças, quando acontecem incêndios em favelas, quando incendiamos os corpos de mendigos, quando a policia assassina pessoas, quando queimamos florestas, quando... quando... quando... Tudo se repete...

     Assim, estamos sempre procurando verdadeiros motivos para chorar.

   Em nossa guerra, somos massacrados pelo nosso inimigo, a nossa própria inconsciência, pela qual zelamos tão bem, regada à álcool, facebook, energéticos, diversão, reality shows, leis, novelas, multas, anfetaminas, etc.

   Então, quando nos deparamos com todas as nossas faltas de limites, impulsionados pelo desejo imenso de viver em um lugar onde a corrupção é o idílio da morte, sua principal ajudante, nós nos indignamos com aquilo que permitimos.

   Dizem, também, que um povo consciente de seus perigos gera um gênio, e reza o mesmo pensador que disse isso, que devemos acautelar-nos de nos tornarmos monstros ao combater os monstros... Mas quando somos inconscientes, quando somos tão “belos & felizes”, e nunca exigimos limites às nossas imperfeições sociais, nossas falhas morais e nossa indignação pós-traumática, essa nossa grande capacidade de sentirmos tanta pena e paixão por nós mesmos, continuaremos flertando com a tragédia, seremos vitimas indiferentes dos monstros da corrupção e do “jeitinho”, beijaremos amorosamente a morte, e nunca, nunca gênio nenhum irá surgir onde tantas pessoas são assim massacradas por motivos ao mesmo tempo, surreais e previsíveis.

   Infelizmente somos uma princesa de um conto de fadas que desperta com o beijo da morte.

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