11 de set. de 2017

Nuvens sobre o Santuário

Hoje me joguei no foço
  de um sentimento profundo
  & emergi de lá leve
  como perfume no ar

Nesse foço os afogados tem nomes de flores
   & quando emergem
   ganham nomes de aves
   depenadas de suas dores

Nomes que murmuramos antes de tê-los
    pois o amor é corrente
    para aprisionar quem ceder
    & depois se calar

Hoje arranquei tuas raízes
    coisas que deixei crescer em volta
    parada como água estagnada
    que não rega os espinhais que zelamos

Havia te tomado como hera
    para meu deleite delírio
    um veneno de espera
    que nunca fez jus ao seu brilho

Joguei no espaço essa raiz
    & eis que cresceu
    como gaiola em volta de mim
    uma prisão de breu

Não eras hera
   nem flor, nem ave
   era o próprio espaço
   rumo ao qual meu coração tendeu

No fundo do poço
   imensidão sideral
   soltei as amarras
   da obsessão letal

Lá embaixo no lodo
   onde se cravam as raízes aladas
   de todo amor que não quer ser igual
   arranquei a fé viciosa desse mal

Liberta enfim
   ganhou as nuvens
   enquanto do foço emergi
    para a sombra que agora fazia

Ambos agora temos
   nossa própria luz
   o fim da loucura nessa aurora
   que nasce apesar do querer

Você luzia como sempre
    eu icaro ferido pela queda
    posso tentar te alcançar sem lastro
    caminhando sob o céu que revolves teu olhar

Nenhum de nós mais afogado
   cada um leve
   & sem nomes pra chamar
   aprendizes de um crê-ser alado...


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