3 de abr. de 2020

Belatrix - Paradoxo das Sombras

Aparte

0 - Ponto de Partida/Chegada

   Na incompletude, chegando ao limite da consciência em sua natureza de conhecer há o nada da Eternidade.
   Partindo em retorno daquele lugar onde o Limite se torna Eternidade, lá onde está a fronteira entre os Universos, e rumando ao meio de tudo que paira no éter de todo o Espaço, vem o Tempo permeando com sua inércia todas as coisas que ali se estabelece.
   Tempo, Espaço, Universo, Galáxias, Estrelas, Planetas, Natureza, Consciência, Seres, Pessoas, Coisas...
   Uma coisa está no mundo, mas o mundo surge em um ponto indefinido entre o Tempo e as Coisas, o mundo surge quando a consciência o estabelece. É no mundo que tudo se desenrola para aqueles que podem perceber as coisas se desenrolarem e se emaranharem infinitamente entre si.
   O mundo, por ser algo do pensamento, uma própria coisa do pensamento, escapa ao mesmo tempo que abrange todas as coisas dentro do limite de um universo.
   Assim, nesse emaranhado de sutilezas que não é nada além de Energia que se condensa ou que se dissolve a partir de condições naturais do Tempo e do Espaço, acontece a Vida.
Tempo e Espaço são os primeiros fatores que se condensam entre si para possibilitarem a experiência da Existência. Tempo-Espaço, ou Espaço-Tempo, permite a Realidade, e nessa realidade nada foge da imanência dual, e tudo no Universo se dispõe então deste modo, em Dualidade.
Toda uma Consciência deverá passar para que então um dia, tudo comece a se ordenar para uma Totalização, ou seja, para que as coisas comecem a se integrar novamente, que é o reflexo no tempo-espaço da Eternidade.
   O “por que?” essas coisas acontecem assim estão além dos próprios limites do Universo, e palavra nenhuma é capaz de dizer qual o sentido disso tudo, pois afinal cada palavra em si, por mais precisa que seja, colocada no lugar certo, falada ou escrita, comporta em si já a dualidade.
   Um ser consciente, que pode pensar, falar e escrever, está apenas operando em um limite intermediário naquilo tudo para o que o universo se dirige em finalidade, pois ele mesmo passou pelos graus imponderáveis da existência, e em certo momento no espaço-tempo pode por si próprio refletir sobre tudo.
   Os seres humanos são esse ponto central. Ou melhor, a consciência humana habita no ponto central do Universo, tal consciência cedo ou tarde compreende que o próprio Universo é constituído de forma tal que a consciência possa existir dentro dele.
   Então a consciência percebe para sua surpresa, que nada nunca fora dual realmente, mas que tudo esperava pela Completude que só uma consciência tal pode vislumbrar.
   Mas... no meio disso tudo, acontece a História. E como somos gratos à palavra!
   Elas são o que de mais paradoxal há, pois com as palavras podemos ao mesmo tempo-espaço determinar e indeterminar, e se assim o é, o pensamento consciente tem a mesma propriedade, pois o pensamento engendrou as palavras no mundo.
   Desta forma, histrionicamente, a história é “história” e “estória”, e cabe apenas aos seres conscientes decidir ao longo do espaço-tempo o que na disposição dos fatos que se desenrolam sejam uma coisa ou outra. As próprias Línguas diferentes no mundo abordam a realidade das coisas de formas diferentes, gerando assim no seio do real, maneiras diferentes de se construir o mundo ao redor, pois é a consciência mesma que tem o poder de construir a realidade humana. Assim a consciência gera a hestória…
   Esse giro da Consciência poderia por si só provar aos seres que tudo o que se dispõe a partir da Eternidade, ou seja, o que está no Tempo-Espaço, é Consciência. Mas a história humana insiste em apontar, daquela forma histriônica particular que lhe convém, que não é assim.
Iludidos dentro de sua divina comédia, construindo mundos que são sistemas de diferenciação entre as particularidades, a humanidade volta todos seus esforços em criar paisagens onde uns desfrutem dos sonhos e outros dos pesadelos da realidade.
   Nessa disposição histórica em se encontrar a Verdade, os seres humanos divididos pelas suas ínfimas particularidades, se agarram à glória da Definição quando tudo na vida aponta para a incerteza, para a relatividade e para a interdependência.
   Isso poderia ser admissível, pois se somos seres que visam entender e empreender o processo de Totalização, nosso ponto de chegada bem que poderia ser a Verdade. Mas paradoxalmente justamente por sermos seres tais, devíamos ter um pouco de inteligência para compreender que a Verdade não é a ponto de chegada, mas o momento crucial da virada.
   Como seres que cavalgam na inércia espaço-temporal, não devíamos ter permitido estacionar onde estacionamos. Mas isso também faz parte do jogo do Universo, pois a consciência humana mesma é uma coisa passível de evolução, ela progride e regride, avança e retrocede, novos influxos de energias permitem que ela assim o faça. E energia para uma consciência vem em forma de uma inércia que propõe às consciências humanas já estabelecidas no tempo-espaço qual rumo tomar.
   Assim as “consciências individuais estão estabelecidas em uma posição estacionária, e o abismo que se abre diante delas vem propor não para o que elas estão preparadas, mas ao que elas estão dispostas a continuarem se tornando, a se elevarem em um ângulo acentuado ou a permanecerem avançando em linha reta.
   Isso dito assim parece apenas uma alegoria que poderia querer dizer a mesma coisa no final, isso porque as palavras são precisamente imprecisas, e o que se desvela à consciência, o que se propõe à mente humana no tempo-espaço, é primeiro apreendido por elas não em forma de palavras e conceitos, mas através de sentimentos, conceitos, imagens, só depois se concatenando em palavra e escrita.
   Ali no âmbito do sentimento é que se dá a proposta. Essa paragem, entretanto só é possível de se fazer entender por imagens, pois ela opera na proximidade da Eternidade.
   Então poderíamos dizer que a Consciência é como aquele local divisório onde um grande rio encontra o oceano, as marés diferentes refluem alterando a disposição dos barcos que navegam rio acima, e é cada um desses barcos diferentes, que são o corpo que abriga cada mente particular, cada partícula de consciência, que definem onde ancorar, em qual barranco permanecerão, ou se continuam a navegar, pra cima e pra baixo, alheios às condições dos refluxos e influxos da maré que se dá pelo encontro entre o rio e o oceano.
   Entretanto, em cada nau há um tipo diferente de navegador. Há os que aprenderam com a observação cíclica dos fatos, há os que seguem outros barcos, há os que navegam soltos pelo rio. Grandes frotas são definidas e às vezes afundam juntas ou encalham, outras navegam para todos os pontos do rio, não obstante as condições, mas no geral, todos parecem se contentar em ficar ali, na finitude navegável do rio, vivenciando as agruras e os prazeres de existir assim.
   As palavras que “definem” os locais onde se dá a chegada e a partida são as mais especiais que existem, pois elas se referem com o mesmo “preciso termo” um local que serve para duas disposições tão diferentes.  Assim o “porto” pode ser onde se embarca como onde se desembarca, a estação é aonde chegam e partem os veículos, a faixa de largada é a mesma de chegada. Assim podemos perguntar se é do sol que parte ou chega a luz solar, se é da alma que partem ou chegam os sentimentos, há nessas palavras paradoxais uma espécie de nexo, uma junta imperceptível onde os rumo de um termo inverte o sentido, ali na junta de um nada aparente tudo aparece e se completa.
   Dessa forma a consciência humana dispõe a humanidade no mundo. Da consciência, na consciência, a consciência é o nada ínfimo, o abismo eterno, a fonte e o sumidouro da realidade. Os homens e as mulheres criam a disposição de se verem como o centro do universo, ou como um ínfimo ser jogado em sua imensidão.
   O que a grande maioria não sabe, mas que uns poucos já percebem, é que qualquer coisa, um mínimo ato sobre a face do planeta está influenciando as estrelas, e são todas as estrelas acima de si que fazem homens e mulheres estarem no lugar que estão, uma simples remada na água muda todo o rio e é todo o rio que define onde o barco estará.

   Se a consciência através da história não se tivesse extraviado na confusão das palavras de Verdade, que são apenas aparentes, ela poderia facilmente vislumbrar o que agora necessitará de um grande paradoxo para que percebam, os seres humanos poderiam entender que todos são um, que Coisas, Pessoas, Seres, Consciência, Natureza, Planetas, Estrelas, Galáxias, Universos, Espaço, Tempo são tão só o “Si” de uma espécie de sentimento final que irá a todos igualar e dispor em Completude.





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