8 de fev. de 2025

Totus

 

Por muito tempo eu achei
   que era um homem incompleto...
A parte que falta... um pedaço de algo
   pedaço de pedra, de criança
   pedaço de monstro, pedaço de tolo
   um pedaço de nada...

Só tarde senti que nada me faltava
   nem a alegria nem a dor
   nem carne nem osso nem alma nem corpo
Não me faltava você
   nem outro alguém
Não me faltava um amor
   nem uma nêmesis
Não faltava ímpeto
   ou covardia
      para me expor ou esconder

O sentimento de falta em si
   é só fuga momentânea da solidão
Que não abraça mas dá as costas
   ao que sobra
      & clama, muda, à facilidade da frustação
Por muito tempo ignorei
   que era um homem completo
Pois confundia perfeição
   com totalização

Assim, eu, em constante reparação
   à cada ferida, cada lesão
Dos olhos ao coração
   cada corte fechado
   sanado, curado
no tempo certo
   de ser inteiro outra vez



   O sentimento de "incompletude" é uma espécie de assombro diante do absurdo do abismo pessoal, apavorante, pois se acha que não pode preencher tal abismo... & que nos convoca então à tarefa existencial de transmutar isso.
   Somos imperfeitos, porém potencialmente perfeitos, & se somos incompletos, nada tira nossa possibilidade de almejar & alcançar a Completude.
   De tal forma a "completude" é diferente da "perfeição". A completude é uma posição tomada na vida, de cultivar equilíbrio,  seja nas relações ou interiormente ao fim de ser alguém são, e não um desequilibrado.
   O abismo não precisa ser preenchido, pois ele perderia sua essência. Essa é nossa natureza & é total, não quando somos perfeitos, mas completos!



Nenhum comentário: