15 de jun. de 2025

Venturas

 

O vento aqui fora
Invisível aos olhos
Sensível aos póros
Mexe com tudo
Do pó do mundo
Aos corpos rotundos

O vento mexe mais com a gente
Do que nós uns com os outros
No frio parece uma lâmina
Fresco parece um carinho
Quente parece parado
   & as coisas que se movem
      dentro do vento

O vento mexe mais com a gente
Do que eu em você
Do que você em mim



13 de jun. de 2025

Ponta a Ponta

 

Oceano
   que uma só palavra
      o esgota...

Vastidão
   preenchida com um segundo
      de ódio alheio...

Andando pelas fronteiras
   & em um piscar de olho
      se acha no olho do furacão...

Assim vamos
   nos equilibrando no fio
      da navalha que nós afiamos
          esticamos, percorremos & evitamos...




12 de jun. de 2025

Férias no Inverno

 

Férias no Inverno
Enquanto toda natureza também descansa
Eu repouso no braço do frio
Como os mortos
Os pensamentos vazios...

Férias no Inverno
Enquanto as folhas caem
Eu caio em estranha prostração
Como as árvores nuas
Os pensamentos em ação...



11 de jun. de 2025

360⁰

 

Em um mundo redondo
   sempre há para onde ir
As nuvens vão primeiro
   o pensamento vai atrás
& nunca nada vai se encontrar
   a não ser o princípio ao fim

Onde tudo é circular
   levamos uma volta para chegar
Qualquer ponto de vista
   é um ponto de fuga
& todos os caminho
   levam ao mesmo outro lugar

Em um mundo esférico
   logo nos perdemos em nosso próprio rastro
Atropelamos nossa própria sombra
   em uma curva inevitável do mundo
& um dia tudo vai se encontrar
   até o fim no princípio

Nosso eterno retorno circo/lar
   do princípio ao fim & do fim ao princípio
Se equilibra/devora
   entre a entrega & o esforço
Se perde no esquecimento
   para de novo acontecer pela primeira vez



10 de jun. de 2025

Avesso

 

Eppur si muove
...
Nossa infância assombrada
Por todos os medos
Insegurança
Superstições
Fraqueza
Fragilidades da inexperiência
...
Deve haver uma insanidade
No cançasso sem compensação
No desgaste sem fricção
Na insensibilidade antes da experimentação
Na culpa antes da razão
...
É a semente dentro da fruta
Que apodrece caída da árvore
Abandonada no chão frio
Ao relento & em contato
Com coisas rápidas & furiosas
& frutifica
...
& de repente somos mais
Candidatos à felicidade
Convidados à morte
Somos sempre mais
Na incompletude da transitoriedade
...
Algo irrecusável não é um convite
A vida não é inevitável
O fim sim
Apreciar está tão próximo ao desejar
Quanto a cura para um mal incurável
Confuso entre a paixão & o desespero
...
O bem banido na proporção certa
É o índice do quanto somos livres
A inteligência é o máximo da maldade
Destinada a nós fazer sobreviver
...
Deve haver um sentido
No esforço antes do descanso
Na economia antes do gasto
No amor antes da morte
Na inocência antes da perversão
...
Se nos equilibramos
Apenas nas compensações
Somos quem dá sentido
& retira valor
Disso tudo que somado
Não significa nada
...
sottosopra!




8 de jun. de 2025

Nascimento & Encerramento

 

Pois as únicas coisas
Impossíveis de saber
É Tudo & Nada!
 

A pobreza material
                      mental
                  espiritual
O problema matinal
                     corporal
             fundamental
Passamos pela experiência
                             desistência
                                 paciência
                                 existência
...dizer que nada faz sentido
   aponta a "lógica" interna
      do que nos domina
         & limita...
                             (intervalo
                                 entre
                                   vales)
...desde o princípio de tudo
    até o destino de todos...



7 de jun. de 2025

Velhas & Novas Noites

 

Vamos sair
Haverá uma conta
   paga pelo romance
   ou dividida pela amizade
Vamos rodar
Nas asas da noite
   nos braços do asfalto
   no leito de um abraço
Vamos circular
& voltar para o mesmo lugar
   no quarto da frustração
   na cama da solidão
Já passou a idade das trevas
Já passou a era da luz
   tateamos no escuro
   agora já familiar
As ilusões terminaram
Os sonhos se encerraram
   gozamos de olhos bem abertos
   fechamos os olhos para descansar
Distinguimos as noite de antes
Das de agora pelo tom da cor do céu
   outrora verde escuro
      de uma seriedade alegre & sem luar
   as de então cinza claro
      daquilo que chamamos insatisfação
Pois lá fora trocaram as lâmpadas quentes
Pelo frio estéril triste do chumbo
   assim como no coração
   trocamos o amor pelo flash de tesão
Mas há ainda uma alegria a se dividir
Há ainda um conforto mútuo a se dar
   um longo intervalo entre beijos
      para tomar ar
   uma longa distância suportável
     entre carinhos para não se desesperar



6 de jun. de 2025

Desmapeado

 

Vou pela estrada de dentro
A via escondida
O caminho interior do caminho

De costa pra avenida
Nos passeios trincados
Esquinas desconexas

Passo pelas bordas
Vou pelas beiradas
Nas ruas secundárias

Adentro as frestas
Me enfio nas vielas
Trilhas descalças

Caminho que se anda à pé
Caminho que se vai sozinho
Caminho feito pra ir devagar

Nuvens tortas no ar
Céu azul de passar
Pés rachados de pisar

A rua do sonho
A rua do sono
A rua da lua

Na cidade de dentro
No bairro pequeno
Na vila do sossego

Vou pelo caminho interno
Pela eira das pegadas
Na senda menos percorrida



2 de jun. de 2025

0FaTeSe1

 

...até que
   irão nos ameaçar
      com o Amanhã!

Não faremos nada
Não teremos nada
Não seremos nada
   a não ser consumir!

O passado
   será dos mortos
O futuro
   das máquinas
& o vivente habitará
   nessa casa sem chão & sem teto
      que é o seu presente
Como sempre
   só que diferente
Só que disso
   nunca saberemos

Nos voltaremos ao básico:
Comer, odiar, amar, dormir, fingir, morrer...
   reagir, reagir, reagir
      entre o 0 & o 1
         que nos dirá o que é ser!