1 de dez. de 2010

The Origin of Consciousness in the Breakdown of the Bicameral Mind


“A Origem da Consciência na Ruptura da Mente Bicameral”

de Julian Jaynes


-- Partes Selecionadas --


Livro Primeiro - A Mente do Homem

I - A Consciência da Consciência

“A Localização da Consciência”

[pág.50 e ss.]

   ...
 
 A falácia final que analisarei é importante e interessante; a deixei para o final porque creio que dá o tiro de misericórdia na teoria comum da consciência. Onde é o lugar da consciência?

   Todo mundo ou quase todo mundo tem como resposta à isso: na cabeça. Isto se deve a que quando introspectamos parece que buscamos ali dentro ver um espaço interno, situado atrás dos olhos. Mas o que queremos dizer com ver ou buscar? Às vezes até fechamos os olhos para observar os pensamentos, para introspectar com mais clareza. Introspectar o que? Esta índole espacial parece inquestionável. Todavia, parece que avançamos quando menos “vemos” em diferentes direções. E se esforçamos muito para caracterizar mais este espaço (apesar de seu conteúdo imaginado), sentimos uma vaga irritação, como se houvesse algo que não quisera ser conhecido, uma qualidade que resulta ser desagradável indagar sobre, como, digamos, uma atitude rude em um lugar amistoso.

   E não nos basta situar este espaço da consciência em nossa cabeça, supomos que aí está no caso das demais pessoas. Ao falar com um amigo mantemos um contato periódico olho a olho (esse vestígio de nosso passado de primatas em que o contato olho a olho se relacionava com o estabelecimento de hierarquias tribais), e sempre supomos que há um espaço detrás dos olhos do nosso interlocutor, similar ao espaço que imaginamos haver em nossas cabeças, do qual vêm o que dizemos.

    E este é o verdadeiro centro da questão, porque sabemos perfeitamente que não há nenhum espaço dentro da cabeça. Na cabeça não há outra coisa que tecidos fisiológicos de um tipo ou de outro. O que seja predominantemente neurológico não tem importância.

   Não é fácil nos habituarmos à este pensamento. Significa que continuamente estamos inventando estes espaços em nossa cabeça e nas dos demais, sabendo bem que anatomicamente não existem; a localização destes “espaços’ é de todo arbitrária. Os escritos aristotélicos, por exemplo, situam a consciência ou a morada do pensamento precisamente em cima do coração; segundo este pensador, o cérebro não era outra coisa a não ser um simples órgão refrigerador, pois era insensível ao toque e às lesões. E muitos leitores não lhe tiraram sentido nesta analise porque situam seu pensamento em algum lugar da parte superior do peito. Sem embargo, para a maioria de nós está tão arraigado o hábito de situar o pensar na cabeça que seria difícil pôr-lo em outra parte. Mas, em verdade, você poderia ficar onde está e situar igualmente sua consciência no ambiente em volta, junto à parede e perto do piso, e realizar seu pensar ali tão bem como o faz em sua cabeça. Bem, não tão bem porque há importantes razões para situar nossa mente-espaço dentro de nós, razões que tem a ver com a volição e as sensações internas, com a relação de nosso corpo e nosso “eu”, as que serão mais destacadas conforme avancemos em nossa investigação.

   Que não exista necessidade fenomenológica de localizar a consciência no cérebro é uma tese que vêm a reforçar alguns exemplos anormais, no que parece que a consciência está fora do corpo. Um amigo meu que recebeu uma lesão frontal na parte esquerda do cérebro recobrou a consciência localizando-se eufórico em um lugar do teto de um hospital, de onde podia ver-se a si mesmo deitado em um leito e envolto em bandagens. Os que consumiram a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) falam de experiência fora do corpo, ou exosomáticas, que é seu nome. Coisas como estas não indicam nada metafísico, simplesmente indica que localizar o lugar da consciência pode resultar arbitrário.

   Mas não tomemos conclusões errôneas. Quando estou consciente, sem duvida estou usando sempre partes de meu cérebro, que estão dentro de minha cabeça. Mas o mesmo ocorre quando ando de bicicleta, se bem que o andar na bicicleta não ocorre dentro de minha cabeça. Os exemplos são diferentes, claro, porque andar na bicicleta ocorre em uma localização geográfica, o que não se sucede com a consciência. Na realidade, a consciência não tem localização nenhuma, exceto quando imaginamos que tenha.


II - Consciência

[pg. 54]
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   A linguagem é um órgão de percepção, não só um meio de comunicação.


[pg.56]

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   O léxico da linguagem é um conjunto finito de termos que graças à metáfora se pode ampliar até abarcar um conjunto infinito de circunstâncias, e inclusive pode chegar a criar, deste modo, novas circunstâncias. (Poderia ser a consciência uma destas novas criações?)

   ...

   Compreender é falar em metáfora de algo. ‘Metaforizar’ causa um sentimento de familiaridade.





[pg.58]

   ...

   A mente consciente subjetiva é um análogo do que chamamos o mundo real.


[pg. 67 e ss.]

   ...

   Temos dito que a consciência é mais uma operação - não uma coisa - um depósito ou uma função. Opera por meio de analogia, por meio de construir um espaço análogo com um “eu” análogo que pode observar este espaço e mover-se metaforicamente nele. Opera sobre qualquer reatividade, extrai aspectos pertinentes, os narratiza e concilia em um espaço metafórico no qual é possível manipular esses significados como coisas no espaço. A mente consciente é um análogo espacial do mundo, e os atos mentais são análogos aos atos corporais. A consciência opera unicamente sobre coisas observadas objetivamente. Ou dito de outro modo, que nos recorda John Locke, na consciência não há nada que não seja análogo de algo que primeiramente esteve na conduta.

  ...

   A consciência vem depois da linguagem.


III - A Mente da “Ilíada”


[pg.79]

   ...

   Em certo sentido, se pode dizer que nós havemos nos convertido em nossos próprios deuses.


IV - A Mente Bicameral


[pg. 93]


   ...

   O som é o menos controlável das sensações primárias; o som é o meio da linguagem que é o mais intricado de todos os logros da evolução.



VI - A Origem da Civilização

[pg. 118]


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   A mente bicameral é uma forma de controle social que permitiu ao gênero humano avançar partindo de pequenos grupos de caçadores-coletores e chegar à grandes comunidades agrícolas. A mente bicameral, com seus deuses controladores evoluiu como etapa final da evolução da linguagem. E neste desarrolho se encontra a origem da civilização.




(Tradução feita por .e.m.t a partir da
edição de “El Origen de La Conciencia
em La Ruptura de La Mente Bicameral”-  
Fondo de Cultura Económica -Mexico -
 2009)



3 comentários:

Anônimo disse...

Encontrei seu blog enquanto procurava o livro do Jaynes para comprar, e apreciei imenso! Tenho um bom amigo chamado Tronconi, Prof. Álvaro Tronconi, doutor em Física pela universidade onde eu estudei, a UnB. Ficaria feliz se vc desse uma olhada no meu blog:
http://nomadigital.blogspot.com.br/
Há uma grande sincronicidade, nós dois lemos os mesmos livros, seria interessante ver se chegamos a conclusões similares...

ca disse...

Ola vc sabe se eu encontro uma versã traduzida deste livro?

ca disse...

Ola vc sabe se eu encontro uma versã traduzida deste livro?