3 de jan. de 2016

(Tratado Sobre a Vida)

Tractatus Vitam


                                                                                 “Memento Mori”
                                                                                 “Vitam Impedero Vero”


Misteriosa coisa
Que me faz presente
Um fulcro aberto
Diante do mundo
Um ponto de vista
Em meio ao circo de ilusões...

A ciranda segue
Já a peguei andando
Vindo de lugar nenhum
Indo pra lugar algum
O que passa, que passará
É o que se diz da infiltração
No desfile dos momentos...

Cantam diversos cisnes
Da aurora ao ocaso
Como se não houvesse a coda
De cada dia recorrente
Aqui tudo é necessidade
Impressionante termos
Concordado com algumas leis...

Cada pessoa é
Um sonho próprio
Dentro de um sonho alheio
Se achando real
Só pelo viés do que falta
Do que há de ser
Do que achamos que deveria...

Não há bases fixas
Para esse permanecer
Pois o passado se extinguiu
São apenas ecos reverberantes
Na caixa acústica do cosmos
Concha fechada
Quarto lacrado...

Somos estrangeiros
Estranhos totais
Anomalias cientes
Dentro de uma anomalia superior
Onde certezas são apenas
Acordos entre coisas parcas...


Precário é nosso ser inteiro
Precário é nosso segundo momento
Alcunha, apelido, artifício, sensação
Como apegar-se a algo?
Se até as estrelas fixas
Caem no abismo
   à milhares de quilômetros por segundo...

A vida que passa
   diante nossos olhos
     é apenas uma alucinação
Como tudo no mundo
   alguns levam demais a sério
      um punhado de acasos...

Sem finalidade
Sem por que
Sem qualquer sentido final
Existir é insistir no que não tem jeito...

Qual o sentido da sorte?
Quando nem todos a tem...
Qual o valor do valor?
Quando cada um tem o seu...

Veja que habitamos
Na grande falha da harmonia total
Veja que nós mesmos somos entropia
Dentro do sistema outrora perfeito
Que urdiu essa base de consciência
Apenas para enfim reconhecer
Que ela decaiu...

A vida é
Um modo de se extinguir
Os homens são
Habitantes do momento único
Em que podemos saber
   o que somos,
      onde estamos,
         para onde iremos...

E a resposta é uma só
Nada, nada, nada

Nunca, nunca, nunca...


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