1 de nov. de 2024

Diáspora

 

 "Um exilado está em três condições
no mundo, e só tem dois lugares neste
mesmo mundo que lhe pertencem:
aquele espaço pleno dentro de um
abraço, ou o lugar oco de sua tumba.
   Assim o exilado é um ser amado ou
um cadáver, ou é um degradado só.
   Então, de resto, enquanto vivo, solto &
sem ser amado, um exilado é apenas
um proscrito, um desterrado, & assim
se sente, única forma que o identifica
a "imagem & semelhança do Deus",
ou seja, um Abortado".
(Ednael VidgDharma)


Agora meu corpo é dois
São muitos
E mais...
Faz parte de um despovo, inmultidão
Nação dos desamados
Dentro do tempo & do pasto
E mais...

Agora parto como todos & ninguém
Para uma terra que não é a minha
Sempre estrangeiro
Cada átomo, cada órgão, um aborto
Sou parte de um povo que se desprendeu

Cada pedaço meu padece de saudade
Sem ao menos saber onde pisei
Porque saber também é amar & ser amado
No meio-chão que é seu

Eu vago perdido por entre fronteiras
Por paragens que nunca me mereceram
Não fui reconhecido em nenhum lugar
& por isso carrego comigo meu lar

Estou longe em cada porto
Me pego desejando o naufrágio
Não vejo saídas em aeroportos
Não será melhor para onde quer que for

Eu só sonho com um outro corpo
Que prove que meu lugar é em um enlace
Um homem não precisa de mais para ser feliz
Que o espaço de um abraço



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