23 de mar. de 2025

O Oco

 

Boca faminta do nada
   em meio às nossas entranhas
Devorando os dias
   como décadas
Devorando a paz
   & o desassossego
O que ela engole
   se reproduz como enxame
O que ela devora
   aumenta sua necessidade

Boca faminta do abismo
Vejo-a no céu
   como o calor que precede a chuva
Vejo-a nas ruas, como o silêncio
   que procede da submissão
Está em todo lugar
   mordendo a felicidade
Abocanhando boa parte
   do desejo & do gozo
Implicando em tudo
   apenas insatisfação

Os velhos aportam-a
   como uma boca banguela que baba
Os jovens
   como boca bárbara que grita & cospe & cala
As crianças tem ela
   como a boca de um vampiro que chora
Boca faminta do nada
   à solta nas ruas
Começa seu banquete em nossas entranhas    & termina na alma
Sem preencher coisa nenhuma
   a não ser o nada & mais nada ainda



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