Estou no espaço entre dois abismos
Uma fossa de água suja sob meus pés
Uma parede de areia ao alcance das mãos
Tudo isso sob a aurora estrondosa que carrego nas costas
Tudo isso ao sabor das cores diante minha visão
Eu vejo os animais fingidos passarem ao longe... rumo à ruminação
Eu vejo as bestas de carga depondo seu peso... na força da rendição
Eu vejo belas feras dançarem a ciranda da inconsequência... são mais ferozes que os que rugem & choram
Eu vejo os animais de lata pálidos, cansados da ferocidade... rumo à extinção
Fiz minha casa na correnteza
A estrada... fluxo de pensamento... o futuro passado
Fiz meu lar na procissão solitária
Exílio... peregrinação... caravana de um homem-árvore
Fiz um refúgio caótico cujo centro é o altar de nossas carnes
Nem isto... nem aquilo... nem isto...
Fiz o caminho de costas trocando a noite pelo dia
Amor-fati... eterno retorno... o grande meio-dia...
Entre abismos & bichos voo
Cabe em mim os espaços vazios
Mas nunca a mediocridade
Não coloco barreiras ao prazer
Mas o amor prezo pelo que sei
Defini aquilo que sou
Mas ainda falta muito para o Ser ser o que é








