15 de jun. de 2025

Venturas

 

O vento aqui fora
Invisível aos olhos
Sensível aos póros
Mexe com tudo
Do pó do mundo
Aos corpos rotundos

O vento mexe mais com a gente
Do que nós uns com os outros
No frio parece uma lâmina
Fresco parece um carinho
Quente parece parado
   & as coisas que se movem
      dentro do vento

O vento mexe mais com a gente
Do que eu em você
Do que você em mim



13 de jun. de 2025

Ponta a Ponta

 

Oceano
   que uma só palavra
      o esgota...

Vastidão
   preenchida com um segundo
      de ódio alheio...

Andando pelas fronteiras
   & em um piscar de olho
      se acha no olho do furacão...

Assim vamos
   nos equilibrando no fio
      da navalha que nós afiamos
          esticamos, percorremos & evitamos...




12 de jun. de 2025

Férias no Inverno

 

Férias no Inverno
Enquanto toda natureza também descansa
Eu repouso no braço do frio
Como os mortos
Os pensamentos vazios...

Férias no Inverno
Enquanto as folhas caem
Eu caio em estranha prostração
Como as árvores nuas
Os pensamentos em ação...



11 de jun. de 2025

360⁰

 

Em um mundo redondo
   sempre há para onde ir
As nuvens vão primeiro
   o pensamento vai atrás
& nunca nada vai se encontrar
   a não ser o princípio ao fim

Onde tudo é circular
   levamos uma volta para chegar
Qualquer ponto de vista
   é um ponto de fuga
& todos os caminho
   levam ao mesmo outro lugar

Em um mundo esférico
   logo nos perdemos em nosso próprio rastro
Atropelamos nossa própria sombra
   em uma curva inevitável do mundo
& um dia tudo vai se encontrar
   até o fim no princípio

Nosso eterno retorno circo/lar
   do princípio ao fim & do fim ao princípio
Se equilibra/devora
   entre a entrega & o esforço
Se perde no esquecimento
   para de novo acontecer pela primeira vez



10 de jun. de 2025

Avesso

 

Eppur si muove
...
Nossa infância assombrada
Por todos os medos
Insegurança
Superstições
Fraqueza
Fragilidades da inexperiência
...
Deve haver uma insanidade
No cançasso sem compensação
No desgaste sem fricção
Na insensibilidade antes da experimentação
Na culpa antes da razão
...
É a semente dentro da fruta
Que apodrece caída da árvore
Abandonada no chão frio
Ao relento & em contato
Com coisas rápidas & furiosas
& frutifica
...
& de repente somos mais
Candidatos à felicidade
Convidados à morte
Somos sempre mais
Na incompletude da transitoriedade
...
Algo irrecusável não é um convite
A vida não é inevitável
O fim sim
Apreciar está tão próximo ao desejar
Quanto a cura para um mal incurável
Confuso entre a paixão & o desespero
...
O bem banido na proporção certa
É o índice do quanto somos livres
A inteligência é o máximo da maldade
Destinada a nós fazer sobreviver
...
Deve haver um sentido
No esforço antes do descanso
Na economia antes do gasto
No amor antes da morte
Na inocência antes da perversão
...
Se nos equilibramos
Apenas nas compensações
Somos quem dá sentido
& retira valor
Disso tudo que somado
Não significa nada
...
sottosopra!




8 de jun. de 2025

Nascimento & Encerramento

 

Pois as únicas coisas
Impossíveis de saber
É Tudo & Nada!
 

A pobreza material
                      mental
                  espiritual
O problema matinal
                     corporal
             fundamental
Passamos pela experiência
                             desistência
                                 paciência
                                 existência
...dizer que nada faz sentido
   aponta a "lógica" interna
      do que nos domina
         & limita...
                             (intervalo
                                 entre
                                   vales)
...desde o princípio de tudo
    até o destino de todos...



7 de jun. de 2025

Velhas & Novas Noites

 

Vamos sair
Haverá uma conta
   paga pelo romance
   ou dividida pela amizade
Vamos rodar
Nas asas da noite
   nos braços do asfalto
   no leito de um abraço
Vamos circular
& voltar para o mesmo lugar
   no quarto da frustração
   na cama da solidão
Já passou a idade das trevas
Já passou a era da luz
   tateamos no escuro
   agora já familiar
As ilusões terminaram
Os sonhos se encerraram
   gozamos de olhos bem abertos
   fechamos os olhos para descansar
Distinguimos as noite de antes
Das de agora pelo tom da cor do céu
   outrora verde escuro
      de uma seriedade alegre & sem luar
   as de então cinza claro
      daquilo que chamamos insatisfação
Pois lá fora trocaram as lâmpadas quentes
Pelo frio estéril triste do chumbo
   assim como no coração
   trocamos o amor pelo flash de tesão
Mas há ainda uma alegria a se dividir
Há ainda um conforto mútuo a se dar
   um longo intervalo entre beijos
      para tomar ar
   uma longa distância suportável
     entre carinhos para não se desesperar



6 de jun. de 2025

Desmapeado

 

Vou pela estrada de dentro
A via escondida
O caminho interior do caminho

De costa pra avenida
Nos passeios trincados
Esquinas desconexas

Passo pelas bordas
Vou pelas beiradas
Nas ruas secundárias

Adentro as frestas
Me enfio nas vielas
Trilhas descalças

Caminho que se anda à pé
Caminho que se vai sozinho
Caminho feito pra ir devagar

Nuvens tortas no ar
Céu azul de passar
Pés rachados de pisar

A rua do sonho
A rua do sono
A rua da lua

Na cidade de dentro
No bairro pequeno
Na vila do sossego

Vou pelo caminho interno
Pela eira das pegadas
Na senda menos percorrida



2 de jun. de 2025

0FaTeSe1

 

...até que
   irão nos ameaçar
      com o Amanhã!

Não faremos nada
Não teremos nada
Não seremos nada
   a não ser consumir!

O passado
   será dos mortos
O futuro
   das máquinas
& o vivente habitará
   nessa casa sem chão & sem teto
      que é o seu presente
Como sempre
   só que diferente
Só que disso
   nunca saberemos

Nos voltaremos ao básico:
Comer, odiar, amar, dormir, fingir, morrer...
   reagir, reagir, reagir
      entre o 0 & o 1
         que nos dirá o que é ser!




25 de mai. de 2025

Eu & Todos

 

Cada pessoa é 
   O que nunca vi
   O que nunca vivi
   O que nunca fiz

Cada outro é
   Tudo que nunca fui
   Tudo que nunca serei
   Tudo que é nada para mim

Um mistério fechado
Uma trilha aberta
   Diferente & igual
Um mistério aberto
Uma trilha falha
   Igual & diferente

Tão perto
   & tão longe de mim
Nada a ver
   Sendo eu mesmo & outro
  
Não existe próximo
Não existe distante

Cada pessoa é
   Eu mesmo & ninguém


 

23 de mai. de 2025

O que será? Será!

 

Olha só... escuridão que cobre tudo
   & faz enxergar
Quantos eu venci com a morte
   sem sequer matar
Nas convulsões do dia-a-dia
   seguindo o fluxo do que tiver que ser
      Será?

Veja bem... o jogo perdido de luz & sombras
   passatempo de quem não gera horas
Quantos eu deixei para trás
   sem sequer ultrapassar
Nas fraturas do noite-após-noite
   guiando o incontrolável ao destino
      Será!



19 de mai. de 2025

O que se diz do que se passa...

 

O que se diz da noite que passa
O que se diz do dia que chega
Nasceu, morreu, passou?
O que se diz da aurora
É boreal, austral ou banal?
Normal, original!

Você
Já teve uma janela
Virada para onde o sol nasce?

Você
Já viu construirem muros
Na horizonte onde você olhava?

O mundo que muda
   da noite para o dia
O mundo que amanhece
   o mesmo mundo que entardece

Você
Já mudou de ideia
Depois que outro dia chegou?

Você
Já pensou duas vezes
A respeito da mesma situação?

A ideia que muda
   de uma hora para outra
A ideia que amadurece
   a mesma ideia que passa



18 de mai. de 2025

Volta Fóssil

 

Dá uma voltinha... vira e mexe...
Retornamos ao Inferno
Os caminhos no mundo são poucos... são breves...
Quando não se confundem, se cruzam...
& de novo, é a mesma velha estrada...
Retornamos ao Paraíso...
Temos os pés cravados como pegadas... passando por aqui & ali...
O fogo congelante... as nuvens escaldantes...
A prisão libertadora... o campo claustrofóbico...
Retornamos à Terra...
Dê uma voltinha...
Retornamos ao lar... que pertencemos... que nos pertence...



14 de mai. de 2025

Folga

 

Ao sol
No frio
Depois da superlua
É dia
Você de folga
Depois
Do garimpo
Você gasta seu ouro
Afastando por segundos
As preocupações
Você é humano
Pagando tributos
A si mesmo

As consequências
Alheias
Pouco te pertencem
Há um show
À parte
Que se desenrola
Mas você não sabe
A verdade
Há um teatro com pouco público
Que você não acompanha tudo
Você paga entrada
& sai antes do final

É dia de sol
Você percorre
As ruas
Por ali você pode andar
Shows, teatro, feiras à parte
Você curte a folga
Não envolvido em nada
Só pensa
No sagrado descanso
Das coisas em que não
Se envolveu



12 de mai. de 2025

ProCura

 

Procurando...
Cadê a palavra?
A imagem?
O sentido?

Procurando...
Onde tudo é sombra
& as sombras dançam no escuro
  esguias, alucinadas, torturadas
   com a pouca luz que vem de longe

Procurando...
Onde estão a palavras?
As imagens?
O sentido?

Procurando...
Até achar
o motivo de desistir,
A coragem agora não passa
da condição de se entregar...



10 de mai. de 2025

Hoje

 

Hoje vou escutar o silêncio das notícias
   sobre a paz no mundo
   sobre não incomodar o vizinho
   sobre como todos estão guerra...

Hoje não quero ouvir falar
   sobre os problemas alheios
   sobre a fofoca do dia
   sobre você & eu...

Hoje vou tapar os ouvidos para gritos & sussurros
   sobre as lamúrias justificáveis
   sobre as reclamações sem porquê
   sobre eu & você...

Hoje é imperativo calar a mente
   sobre rancores & amarguras
   sobre ressentimentos & vinganças
   sobre alguém & ninguém...



7 de mai. de 2025

Conclave

 

Todos reunidos
Na rinha do pensamento
Que não se cruza
Nesse combate dispar
De um mundo tecno expandido
Com alma retro atrofiadando

Os verdadeiros
  Profetas
Falavam de amor
Profetas pró-afetos
  Que nos afetam
   Pelas vias de fato
...haviam entretanto os que castigavam...
Os verdadeiros
  Poetas
Falavam de uma dor
Poetas adoradores
  Inspirados pela musa
   Castigados pelo daimon
...há porém os que amam...
Os falsos
  Profetas/Poetas
Falam de alegria & prosperidade
Anti-pró-etos
  Que espalham a praga
   Da esperança
...de espera que não chegará...



4 de mai. de 2025

Cada Dia

 

Explosões de tristeza na periferia da vida
As ondas de impacto penetram na vizinhança & chegam a mim
Como um vento triste que carrega folhas do último outono
& o som no ar é de um choro provido de incompreensão
Dos que não sabem porque suas vidas estão assim...

Cada um carrega consigo o seu núcleo de negação
Seguimos pelo mundo às cegas
Meros sonâmbulos zelando pela ignorância que nos permite seguir
Depois do dia & das novas distâncias que a vida traz
Apalpamos finalmente o que está perto
Destroços implodidos em cima dos quais temos que construir incansavelmente algo para continuarmos seguindo...



2 de mai. de 2025

Surpresas com o Tempo

 

Certamente o tempo não é como o sal,
   que conserva a carne;
Nem como o amor,
   que preserva a mente além do bem & do mal.
O tempo tem me trazido surpresas,
   à medida que ele passa;
Vai enrijecendo as pessoas,
   enquanto apodrece seus corpos.
Vai endurecendo as mentes,
   enquanto desgasta os dentes.
Ergue montanhas,
   entorta caminhos;
Cresce árvores,
   prospera os ninhos.
Aumenta a distância
   que estamos da infância,
& afrouxa os laços dos relacionamentos
   com a convivência.
O tempo certamente cobra diluição
   de quem entra em sua duração.
O futuro arauto do fim com seu princípio
   que todos desconhecem,
O presente com suas dádivas trágicas
   que poucos reconhecem,
& o passado com seu mistério velado
   pelo qual todos passaram.
Certamente no final saberemos
   que o tempo nos enganou
      ensinando uma grande verdade:
Que ele não existe,
   & só aconteceu para provar nesse devir
      que muitos de nós também falharam em existir.



1 de mai. de 2025

Rumos & Desatinos

 

O verdadeiro norte
   mudando a cada momento
& ao sul de nosso umbigo
   tudo fica fora do lugar
      de acordo com um sensor externo
         frio, calculista & magoado

O verdadeiro amor
   agora já é um velho desconhecido
Uma prática
   que esquecemos como manufaturar
      pois ninguém mais vê utilidade
         em se conhecer, só conectar



28 de abr. de 2025

Rastro de Sombras

 

Com medo de nós mesmos
Escondendo isso no ego
Seguimos tateando no labirinto
Com sinais de proíbido fosforescentes
Com medo do escuro
Mas maior medo ainda do fogo

Espera o dia raiar
Pra sair da caverna
Espera a energia voltar
Pra carregar a tela do celular
Espera a lua subir
Para ir caçar ao luar

Com medo do escuro
Aprendemos a comer luz
Nessa fome eterna
Engolindo brilho seco
Com pontas afiadas de estrelas
Deixamos rastros de sombras por onde vamos




27 de abr. de 2025

Junta Caledoscópica

 

Vai haver uma manhã
onde todos os espelhos estarão quebrados
Ou você vai estar apenas...
...de olhos fechados
Vai chegar o dia
em que poderemos descansar
Da opressão de tanto precisar
sem sedermos descanso
& saberemos enfim...
...voltamos aos braços da noite
Você vai ver, de olhos fechados
os cacos de sua vida se emendarem
Em um mapa de trilhas de cicatrizes
esse corpo que reflete luz...
Vai haver uma manhã
em que haverá um despertar
Em vez de espelhos trincando
você verá continentes colidindo
& sua unidade de corpo & mente...
...estará insanamente sã novamente
Este trincado aberto irá se juntar
& haverá abertura para se curar...



26 de abr. de 2025

Névoa

 

Eu me sinto confortável
   quando a neblina despe
...dizem que ela "desce", mas na verdade ela sobe...

Estou dentro do véu
   que abraça a luz & extende o sonho
...anulando a realidade banal...

Me sinto na penumbra do brilho
   cerração que vampiriza o neon
...& nos movemos rumo ao muro de branco profundo...

Na rua desenruada
   não há ninguém, só quem transrua
...somos espectros que passam uns dentro dos outros...

Um ruído branco se propaga
   desde o coração nublado até o gemido  nebular
...& o eco dos grilos preenche a bruma...

Até chegar, por entre a neblina
   tudo é uma suspensão que nos aproxima
...estamos à um passo de um acerto irreversível...

É o sopro do dragão
   é o sussurro do fundo flume
...que sobe desde o poço & se espalha como chuva inversa...

& quando menos se vê
   o sol espalha quem ele havia derrubado
...& o dia claro irremediável se estende até a noite outra vez...

Sem não antes
   baixar a pesada tênue cerração
...diluindo entreluz as coisas que são absorvidas da visão...

É mais longa a pouca hora de neblina
   que todo um dia de resplendor
...porque ali no berço névoa repousa uma paz & mistério em que adoramos estar...



25 de abr. de 2025

Ao Pó do Pó

 

Às vezes
penso que morrer seria
   acordar sozinho no mundo
Sem ter o que fazer
sem ter quem ver
   apenas vagar só por aí
Morrer seria
de um lado desaparecer do mundo
   & os outros no mundo sumir para mim
& ficaria assim só
por um tempo incontável
   até as coisas envelhecerem & ruirem
O mato crescendo
nas frestas do asfalto
   as paredes trincando & tudo esvaecendo
Às vezes
penso que morrer
   seria apenas ver o mundo morrer também



24 de abr. de 2025

A Carne de Marcela


Tua forma
Minha fome
A forma que encaro tua carne
Da forma como ela é
Como a como
Como minha
Como cara
Para minha própria forma & fome
Tua carne
Nua & crua
Morena
Disforme ao grau da perfeição
Harmonizada ao acaso único
Que te dá a cara & a forma que tem
Que te dá o nome
À tua forma
Para minha fome



23 de abr. de 2025

"Bom dia..."

 

Às vezes... pela manhã... urge essa vontade de dizer algo, declarar ao pequeno mundo que me assiste com olhos indiferentes algo de bom, enaltecedor, que mostre minha disposição, minha fé, etc.
   Mas não é vontade, é só contágio, a doença atual de parecer disposto, agradecido, energizado... enquanto estamos todos, porém, vazios e destruídos!
   Então, não tenho palavras alheias que me servem, não tenho versículos, provérbios, nem adágios ou ditados sem sentimentos pessoais achados em um gerador de lero-lero qualquer para "começar meu dia bem".
   Faço disso um favor à quem me enche de suas tolices matinais diárias. Posso muito bem passar sem isso que não serve nem para você.
   Fora do contágio, dessa praga digital que invade os olhos, ouvidos, mentes... sempre amanheço com uma canção tocando na cabeça, isso talvez seja a única expressão do alívio que meu pensamento busque ao despertar do sono para vir lidar com os sonâmbulos...
   Um "bom dia" basta, à titulo de "não vou te incomodar", porque para além disso, nada podemos desejar ou sequer fazer que os outros tenham!



21 de abr. de 2025

Passagem

 

Me deram para comer o pó desse chão
Junto ao ar que respiro
Ninguém fez conta do peso da fuligem
A conta quem me mandou foi a vida

Rodando em linha reta
Na quadratura desse círculo
Eu passo sempre pelas mesmas ruas
Em horas desertas

Meus dias são noites
Minhas noites sonolência
De sol a sol que não vejo
Sonho com a estrada

Eu sei de tudo que me abandonou
Eu sei o que abandonei
Não vou cobrar de ninguém
Mas também não tenho nada a pagar

Um dia a mais, um dia a menos
Essa conta que não fecha
Carregando nas costas o peso da saudade
& nos pulmões o pó que reviro


 

19 de abr. de 2025

desBitsar

 

Já temos algo significante
   para abandonar & esquecer
Uma grande guerra
   onde lutar & morrer
O mundo se encheu
   de certa fabulosa inutilidade
Que se tornou relevante
   descartar essa futilidade
A grande frivolidade de nossa era
   todas essas redes
   com seus giga, terra, bits & betas
O digital
   & o seu nada
Já temos algo grande
   para esquecer & abandonar
Essa unidade
   que trouxe desunião
A volta ao ser...tão...



17 de abr. de 2025

Veredas

 

Vereda I - Azo

"Caminho"
  já é uma palavra grande demais
  para distâncias que percorremos,
Quem dera sempre o chamar
de "lar".

Pois mesmo a palavra "vereda"
  já contém toda "verdade"
  que se faz ao percorrer.


Vereda II - Lapso

Fora lá
  no Lar

Lar afora
  aqui



Vereda I\I - Atalho

Cravo um talho no pisado
Entre o caminho & o caminhado
                           o lar
Atalho
   caminho do meio
Um talho na senda da causa & efeito
Uma trilha dentro da trilha
   que despista
      o meio fora de eixo
         do caminho


Vereda IV - Sendeiro

Meu coração na estrada vazia
Rodando...
     produz um som lento & pesado
Passando como máquina arrancando asfalto
Não deixando rastro nem nada para trás
Indo...
     como uma tempestade que varre tudo
Perdendo rumos, encontrando caminho
Meu coração na estrada vazia
É coisa única...
     nunca vista na natureza
Um bloco imaterial que arrasta calma & fúria
& cega a visão com faróis para escuridão
O abismo caminhando na face da terra
Na estrada que se faz pra frente
   sem ter como contornar


Vereda V - Caminho/Lar

Quantas vezes o meu coração
   esteve nessa estrada vazia
Sem hora, dia ou onde chegar
Quantas vezes são assim meus dias...

Agora que mais uma vez
   o mapa da vida mudou sem avisar
& os destinos & partidas
   são novos pontos a se fixar
A estrada que se faz pra frente
   sem ter como retornar

Quantas vezes os meus pés pisaram
   nesses novos velhos lugares
Onde nunca estive, mas sempre passei
Quantas vezes é assim meu caminho...


Vereda VI - Enveredar

Quantas vezes, contadas em passos, pegadas,
  teremos que intercambiar, combinar perdidos & achados, princípio & fim, partida & chegada? Tempo & espaço? Velocidade & lugar? Talhos & atalhos? Verdades & veredas?
Tantas vezes, que confundimos & compreendemos as voltas, os rumos, as viradas que a vida dá,
Pela longa estreita estrada de correr & repousar!
É tudo só partir & chegar, quando é também perder & achar...
No Caminh(L)ar.




6 de abr. de 2025

Funambulações

 

Eternidade é
   esperar algo bom
...a longa espera por estrelas se acenderem & apagarem...
Entre uma coisa & outra... o nada
   suficiente para preencher tudo!


Piso em lugares que nunca pisei
   pois não ando pelos mesmos caminhos
...a longa estrada sem começo nem fim...
Entre uma coisa & outra... o nada
   suficiente para preencher tudo!


Equilibro na corda bamba
   que vibra sonora a canção da vida
...a longa oscilação de um lado para o outro no desconhecido...
Entre uma coisa & outra... o nada
   suficiente para preencher tudo!


Eu sou um buscador
   do não redundante na repetição
...o longo tormento de emanar a novidade dentro da possibilidade...
Entre uma coisa & outra... o nada
   suficiente para preencher tudo!



3 de abr. de 2025

Afago

 

Esse é o mistério do figo:
Inversa flor
   que come a vespa
Dissolve o ferrão em doce
   de rosa sabor

O afago
   é o fruto da árvore que caminha...
Nesse afago fim da fome
Esse afago fim do fogo
Tal afago fim fardo
Ausência da fuga
Fagulha
Fissura
Figo
Flor



2 de abr. de 2025

Carícia

 

...não deixe o pó
   se acumular no canto dos lábios
fazendo aquela parte fina pesar
   & ser puxada pela gravidade das coisas...

...deixe sempre limpo
   da fuligem que se acumula
nas digitais das mãos
   que não tocam outro corpo...

...lembre-se exercitar
   essa coisa rara & única
que é a capacidade
   de fazer outra pessoa sorrir...



1 de abr. de 2025

Pog

 

Há esse monte
   erguido com minha coluna
Sobre a cordilheira de ossos
   & pedras esculpidas ao cubo...

A natureza não gera
   rochas quadradas, não traça linhas retas
Mas a natureza humana
   soergue fortalezas, sendas certas
      na rocha, na alma, no céu...

É o monte seguro
   de nosso espírito revolto
É a terra pura planejada com caos
   que resiste à submissão ao mal...



30 de mar. de 2025

Atestamento

 

Se esse é o fim da estrada
Se é assim que as coisas acabam
   & se encaminham à inclusão do derradeiro
& acontece
   o não suposto
   o não sonhado
   o impensável
   o indesejado
      se concretizando, em cadeia, como fato
Nós não vamos voltar atrás
   & encarar de frente
      o final impensado, surpreendente
         em plena era
            do deslumbre pelo superficial
Não há para onde voltar
   A guerra que não erra
   A máquina que não se lastima
   A ciência que inconsciência
   A crença que descrença
   A IA IdiotA
Tudo isso deixo escrito em papel incinerável
   como testamento
      que nós chegamos até o fim
         mas não passamos do final...



28 de mar. de 2025

As Novas Horas

 

Passando pelo tempo, como hora marcada
Nas datas, em comemoração
   seja natal
   seja funeral

...dentro do tempo, cobrindo espaços expostos, o importante é saber quando, como & do que desistir...

Passando pelo tempo como carta marcada
Nas atas dos fatos, como rememoração
   seja surpresa
   seja repetição

...não se desapegue da euforia, não se apegue ao cançasso, nada é tão importante para fazer com  que tudo seja desimportante...

Passando pelo tempo, como procissão
Nos atos em irreversibilidade,  não locais, não causais
   seja princípio
   seja fim

...assim passando, pelas horas apagadas, gastas em nada, apressando o vazio à chegar finalmente nas vias de fato...



25 de mar. de 2025

Ponderações

 

...
Quietude de inércia
   a mil por hora
Silêncio de rouquidão
   sorriso de sapiência
...
Lembro-me antes de me julgar
   É tudo uma linha de consequências
   É tudo uma cadeia de reação
Lembro-me antes de me condenar
   É só uma fase
   É só o de sempre
...
Tribulações no limbo da existência
Marés de gente, indo & vindo
Em nossas vidas abissais
Entre o raso & o profundo
   Só ficam os afogados
   Deixados, abandonados, retirantes
...
Esqueço-me antes de odiar
   Gente rasa, gente mediana
   Gente profunda
Esqueço-me antes de desamar
   Penso em mim
   Um novo lugar
...