8 de ago. de 2025

Extinção em Massa

 

A madrugada
convulcionou
Sobre minhas
  pernas cambrianas

Eu a carreguei
com seu peso de amanhecer
Sem nem ligar
  para o aniquilamento do sono

Quando percorro
essas horas desperto
Percebo que vivi
  milhões de anos & vou morrer logo

Percebo que a eternidade
parca das coisas
É nada na imensidão
  descabida das futilidades

O que passa
sobre a terra
É só substância
  para o esquecimento

O que rola
sobre os asfaltos
É só um sentimento jurássico
  que se acalmou

A extinção em massa
da vontade
Sob a pedrada
  da insensibilidade


 

4 de ago. de 2025

A.D.D.


Antes da estrada
fiquei pensando como seria
  a tristeza de passar por ali sozinho
Então quando sai
& me pus a caminho nem percebi
  que estar a caminho me fazia feliz
Ecos sem sons do pensamento
que sofre antes
  & nem percebe o prazer durante



29 de jul. de 2025

1 Quilo de Sal

 

É preciso tempo...
é preciso ficar;
Para se fazer importante
é preciso estar presente,
  não só pedindo, mas dando.
Nada é
sem antes se mostrar;
O que nós achamos
quase nunca é
  o fato;
É preciso ser doce
& insosso
  & comer um quilo de sal juntos...
O fado encontro
entre o que é para ser
  & o que fazemos acontecer,
Até que possamos dizer:
não só ficamos,
Permanecemos!
& se viemos
para amargar a vida
  ou adoçar a existência de outro,
É que para isso
temos só sal;
Não somos bem ou mal
  somos muito ou... pouco!
Meia porção
de cada um...



27 de jul. de 2025

Vai

 

Vai
   Enterra teus mortos
      & volta a trabalhar

Limpe os dentes
   Tem restos de carne na boca
Lave os pés
   Há pó das covas abertas na sola

Vai
   Abra os braços para todos
      & permaneça na solidão

Limpe os olhos
   Das remelas dos sonhos inacabados
Arranque a pele
   Por cima dos calos da caminhada

Vai
   Quebre os espelhos com seu reflexo
      A sorte ou o azar viajam com a luz



23 de jul. de 2025

Em frente

 

Querer querer
É inevitável

As coisas presas
Não estão em seu lugar

Aquilo que se desencontrou
São rimas fora do tempo

Não somos nós quem perdemos a vez
É que o mundo não para

Tudo tem que acabar... & continuar!
Tudo tem que continuar... & acabar?



19 de jul. de 2025

Imunidade

 

Imunidade ao furor
Imunidade à flor,
O que não desmata
Nos floresce!

Para cada um
   que conseguiu sua imunidade na imundice
Há aquele que
   alcançou proteção no afeto
& segue sob o sol
   que brilha acima das sombras
      de nuvens que não são de chuva
         mas só... todo tipo de poluição
            que não afeta, apenas infecta
Mas somos imunes
   ao novo desespero da conexão!



18 de jul. de 2025

Atualizações

 

A liberdade tem
sim as mãos sujas
& com certeza,
não é de mendigar!

...& agora que passamos os dias imunes
      à dor & também à alegria
         que outrora contaminavam...
então suscetíveis à radiação do mundo real
   já pseudo-vivemos em um mundo ideal
      de ideias vagas desenvolvidas
         na forma digital!

Todos encantados
   pela flauta dos vagos magos
Todos seguindo em fila
   na sina do canto do cisne
Mas tudo é uma só decepção
   ao som do tambor de couro humano

A realidade agora é da plataforma
Conexões são redes
Notícia é opinião
Ciência é fé
& o ódio é o carinho que cada um merece
   trocados sob a luz das telas

...nunca mais haverá noite escura da alma
   porque nada mais tem âmago...
sequer mal há
   só há um bem irrecusável
      onde ninguém consegue mais amar!



15 de jul. de 2025

Nuviante

 

As nuvens escrevem
   em formas
Que só os olhos
   que sonham
      leem

Hoje as nuvens escreveram
   frente ao fundo azul do céu
De forma estranha
   & nebulosamente nuova
A incerteza que conduz
   em ser leve...

Fragmentadas nuvens alheias
   dispersas como pássaros
Extensas nuvens chumbo
   leves como plumas
Granuladas nuvens brancas
   claras como chuva
Variadas nuvens passageiras
   lentas como o advento
& eu aqui... as lendo...

O som do que leio nas nuvens
   é o sopro mudo de uma sombra
Declamo sobras de assombros
   extensos verbos planos no chão
Como véu de um frescor
   que só lemos por baixo...

(& lá longe
   no pé do horizonte, à reboque no nada
Um nó de nuvem
   embrulhada sobre si, ancorada no vento
Põe um ponto final
   nesse texto suspenso no ar
      com palavras que nuvens sentido).




14 de jul. de 2025

Envelhecer

 

Esse defeito
Que o mundo tem
  Do ar à nossa frente
   Não ser um espelho...
Faz com que
O tempo passe
  & nem percebemos
   Nós mesmos envelhecer!

Acontece tão lento
& nos encaramos tão pouco
Não é como as nuvens no céu
Não é como as estrelas no éter...
Não somos nem intermediários à isso
Somos mais & menos
Que um momento único
  Que se repete em cada um
   Mas não acontece outra vez!

Criamos coisas
Que existirão mais que nós
Usamos coisas
Inventadas há muito tempo atrás
& deixamos passar
Deixamos de capturar na hora certa
As poucas coisas que durarão para sempre
  Enquanto também durarmos
   Apesar de não vermos:
O olhar... para outro ser...
Que irá se transformar
  & nosso amor não vai nem perceber!



13 de jul. de 2025

Duvidas à Ninguém

 

A vida é essa grande farsa
de tempo & energia na qual
é duvidoso acontecer!

Que outra coisa seria assim?
Crime ou castigo...
Simulacro ou simulação...
Punheta ou castidade...
Compaixão ou maldade...
Liberdade ou censura...
Fealdade ou cegueira...
Beleza ou paz...



12 de jul. de 2025

Etc. & mal

 

Malditos
Todos malditos
Arruinando vidas
Famílias
Sociedades
Povos
Malditos
Todos malditos

Evocados sem vogal
Trmp. Ptn. Ll. Blsnr.
Mcrn. Png. KmJll.
Zlnsk. Ntnyh.
& mais
Papas. Pastores. Aiatolas.
Padres. Pedras. Podres.
& blá-blá-blás & mi-mi-mis.
Derrocados sem moral
Influencers. Especialistas.
Críticos. Difamadores.
Criadores de conteúdo. Criadores de ódio
Facínoras. Benfeitores. Racistas. Mentirosos.
Esquerda. Direita. Centro. Deslocados.
Fideis & Pinochets.
Crentes & Ateus.
Red pills. Wokes. Sonâmbulos.
Ressentidos & Deslumbrados.
Científicos. Supersticiosos.
Otários. Estúpidos.
Etcetera & mal...

Malditos
Todos malditos
Arruinando vidas
Famílias
Sociedades
Povos



11 de jul. de 2025

2 de jul. de 2025

PassAnon

 

Por ali vai
   Um estranho
Um homem fora de sintonia
Esse mundo está o ejetando

Não há conexões
   Os nós não estão apertados
Ele desliza pelo frio
Escorrega no calor

Lá vai
   Um total estranho
Sofrendo de alegria
Alegre com a complexidade de existir

Um tormento ambulante
   Restrito ao seu próprio corpo
O caos de tudo & o nada soberano
Caminhando pelas ruas

Ele não cria conexões
   Apesar de contatar todo mundo
O que os repugna é a falta de contato
O que o liberta é não dar confiança


 

25 de jun. de 2025

Fogo Frio

 

Reclamas do frio...
Amaldiçoas o calor...
Eis que não me importa!
Carrego o o fogo & o gelo
   em um lugar do meu coração...

Para cada um seu desafio
   & tudo que toco & me tocar
Vai queimar mesmo
   seja pelo gelo, seja pelo fogo...

No lugar onde o sol não bate
No lugar onde a noite não entra
No lugar onde o o vulcão explode
No lugar onde a estrela não brilha

Eu tenho eras
   em um segundo pra te mostrar
Atravessar geleiras
   cruzar desertos para se prostrar

São oceanos de gelo
   ondas de lava a navegar
Eu naufrago sempre
   ou na tundra ou no torso da explosão solar

É que as estações não passam
   elas se sucedem diante do olhar
O cadáver em animação suspensa
   não difere da estátua viva de cinza

Assim como meu amor
   não distingue o fogo que queimou
      do incêndio que não se apaga
Não distingue o frio que congela
   da chama do desejo
      que torna a paixão eterna

Eu resisto no calor
   interno
Prospero no frio
   eterno



19 de jun. de 2025

Travessia Transversal

 

No fundo do abismo
   passa um rio
Sobre o rio
   uma ponte
Sobre a ponte
   passamos
Ou nos jogamos
O caminho do fundo do abismo
   é também uma encruzilhada

A estrada é descida
Até a ponte
Até o rio
Até a água
Depois ela é subida

Porque a água vai mais baixo
Não por peso ou culpa
A água é como nós
   busca o lugar de repouso
      onde encontra o descanso
         o sono & o carinho...

A água escorre
Ela não desce ou foge
   sabe seu lugar, naturalmente...
Ela olha para cima & sabe
Se estiver calma
   logo será nuvem
      logo será chuva
         logo será rio, mar, oceano

Assim somos nós
Se olhamos para o alto, para frente
Serenos seremos
   passado, memória, mortos
Mas seremos também
   futuro, consciência, amor, vida
Inconsciência & ciência

Nossa estrada é descida
   & também subida
Nossa estrada é rio
   que não se entra duas vezes
É rio que sobe a montanha
    cachoeira invertida
Somos oceano acima da terra 
Somos o que habita no fundo
   & acima
      ao transvessar...



15 de jun. de 2025

Venturas

 

O vento aqui fora
Invisível aos olhos
Sensível aos póros
Mexe com tudo
Do pó do mundo
Aos corpos rotundos

O vento mexe mais com a gente
Do que nós uns com os outros
No frio parece uma lâmina
Fresco parece um carinho
Quente parece parado
   & as coisas que se movem
      dentro do vento

O vento mexe mais com a gente
Do que eu em você
Do que você em mim



13 de jun. de 2025

Ponta a Ponta

 

Oceano
   que uma só palavra
      o esgota...

Vastidão
   preenchida com um segundo
      de ódio alheio...

Andando pelas fronteiras
   & em um piscar de olho
      se acha no olho do furacão...

Assim vamos
   nos equilibrando no fio
      da navalha que nós afiamos
          esticamos, percorremos & evitamos...




12 de jun. de 2025

Férias no Inverno

 

Férias no Inverno
Enquanto toda natureza também descansa
Eu repouso no braço do frio
Como os mortos
Os pensamentos vazios...

Férias no Inverno
Enquanto as folhas caem
Eu caio em estranha prostração
Como as árvores nuas
Os pensamentos em ação...



11 de jun. de 2025

360⁰

 

Em um mundo redondo
   sempre há para onde ir
As nuvens vão primeiro
   o pensamento vai atrás
& nunca nada vai se encontrar
   a não ser o princípio ao fim

Onde tudo é circular
   levamos uma volta para chegar
Qualquer ponto de vista
   é um ponto de fuga
& todos os caminho
   levam ao mesmo outro lugar

Em um mundo esférico
   logo nos perdemos em nosso próprio rastro
Atropelamos nossa própria sombra
   em uma curva inevitável do mundo
& um dia tudo vai se encontrar
   até o fim no princípio

Nosso eterno retorno circo/lar
   do princípio ao fim & do fim ao princípio
Se equilibra/devora
   entre a entrega & o esforço
Se perde no esquecimento
   para de novo acontecer pela primeira vez



10 de jun. de 2025

Avesso

 

Eppur si muove
...
Nossa infância assombrada
Por todos os medos
Insegurança
Superstições
Fraqueza
Fragilidades da inexperiência
...
Deve haver uma insanidade
No cançasso sem compensação
No desgaste sem fricção
Na insensibilidade antes da experimentação
Na culpa antes da razão
...
É a semente dentro da fruta
Que apodrece caída da árvore
Abandonada no chão frio
Ao relento & em contato
Com coisas rápidas & furiosas
& frutifica
...
& de repente somos mais
Candidatos à felicidade
Convidados à morte
Somos sempre mais
Na incompletude da transitoriedade
...
Algo irrecusável não é um convite
A vida não é inevitável
O fim sim
Apreciar está tão próximo ao desejar
Quanto a cura para um mal incurável
Confuso entre a paixão & o desespero
...
O bem banido na proporção certa
É o índice do quanto somos livres
A inteligência é o máximo da maldade
Destinada a nós fazer sobreviver
...
Deve haver um sentido
No esforço antes do descanso
Na economia antes do gasto
No amor antes da morte
Na inocência antes da perversão
...
Se nos equilibramos
Apenas nas compensações
Somos quem dá sentido
& retira valor
Disso tudo que somado
Não significa nada
...
sottosopra!




8 de jun. de 2025

Nascimento & Encerramento

 

Pois as únicas coisas
Impossíveis de saber
É Tudo & Nada!
 

A pobreza material
                      mental
                  espiritual
O problema matinal
                     corporal
             fundamental
Passamos pela experiência
                             desistência
                                 paciência
                                 existência
...dizer que nada faz sentido
   aponta a "lógica" interna
      do que nos domina
         & limita...
                             (intervalo
                                 entre
                                   vales)
...desde o princípio de tudo
    até o destino de todos...



7 de jun. de 2025

Velhas & Novas Noites

 

Vamos sair
Haverá uma conta
   paga pelo romance
   ou dividida pela amizade
Vamos rodar
Nas asas da noite
   nos braços do asfalto
   no leito de um abraço
Vamos circular
& voltar para o mesmo lugar
   no quarto da frustração
   na cama da solidão
Já passou a idade das trevas
Já passou a era da luz
   tateamos no escuro
   agora já familiar
As ilusões terminaram
Os sonhos se encerraram
   gozamos de olhos bem abertos
   fechamos os olhos para descansar
Distinguimos as noite de antes
Das de agora pelo tom da cor do céu
   outrora verde escuro
      de uma seriedade alegre & sem luar
   as de então cinza claro
      daquilo que chamamos insatisfação
Pois lá fora trocaram as lâmpadas quentes
Pelo frio estéril triste do chumbo
   assim como no coração
   trocamos o amor pelo flash de tesão
Mas há ainda uma alegria a se dividir
Há ainda um conforto mútuo a se dar
   um longo intervalo entre beijos
      para tomar ar
   uma longa distância suportável
     entre carinhos para não se desesperar



6 de jun. de 2025

Desmapeado

 

Vou pela estrada de dentro
A via escondida
O caminho interior do caminho

De costa pra avenida
Nos passeios trincados
Esquinas desconexas

Passo pelas bordas
Vou pelas beiradas
Nas ruas secundárias

Adentro as frestas
Me enfio nas vielas
Trilhas descalças

Caminho que se anda à pé
Caminho que se vai sozinho
Caminho feito pra ir devagar

Nuvens tortas no ar
Céu azul de passar
Pés rachados de pisar

A rua do sonho
A rua do sono
A rua da lua

Na cidade de dentro
No bairro pequeno
Na vila do sossego

Vou pelo caminho interno
Pela eira das pegadas
Na senda menos percorrida



2 de jun. de 2025

0FaTeSe1

 

...até que
   irão nos ameaçar
      com o Amanhã!

Não faremos nada
Não teremos nada
Não seremos nada
   a não ser consumir!

O passado
   será dos mortos
O futuro
   das máquinas
& o vivente habitará
   nessa casa sem chão & sem teto
      que é o seu presente
Como sempre
   só que diferente
Só que disso
   nunca saberemos

Nos voltaremos ao básico:
Comer, odiar, amar, dormir, fingir, morrer...
   reagir, reagir, reagir
      entre o 0 & o 1
         que nos dirá o que é ser!




25 de mai. de 2025

Eu & Todos

 

Cada pessoa é 
   O que nunca vi
   O que nunca vivi
   O que nunca fiz

Cada outro é
   Tudo que nunca fui
   Tudo que nunca serei
   Tudo que é nada para mim

Um mistério fechado
Uma trilha aberta
   Diferente & igual
Um mistério aberto
Uma trilha falha
   Igual & diferente

Tão perto
   & tão longe de mim
Nada a ver
   Sendo eu mesmo & outro
  
Não existe próximo
Não existe distante

Cada pessoa é
   Eu mesmo & ninguém


 

23 de mai. de 2025

O que será? Será!

 

Olha só... escuridão que cobre tudo
   & faz enxergar
Quantos eu venci com a morte
   sem sequer matar
Nas convulsões do dia-a-dia
   seguindo o fluxo do que tiver que ser
      Será?

Veja bem... o jogo perdido de luz & sombras
   passatempo de quem não gera horas
Quantos eu deixei para trás
   sem sequer ultrapassar
Nas fraturas do noite-após-noite
   guiando o incontrolável ao destino
      Será!



19 de mai. de 2025

O que se diz do que se passa...

 

O que se diz da noite que passa
O que se diz do dia que chega
Nasceu, morreu, passou?
O que se diz da aurora
É boreal, austral ou banal?
Normal, original!

Você
Já teve uma janela
Virada para onde o sol nasce?

Você
Já viu construirem muros
Na horizonte onde você olhava?

O mundo que muda
   da noite para o dia
O mundo que amanhece
   o mesmo mundo que entardece

Você
Já mudou de ideia
Depois que outro dia chegou?

Você
Já pensou duas vezes
A respeito da mesma situação?

A ideia que muda
   de uma hora para outra
A ideia que amadurece
   a mesma ideia que passa



18 de mai. de 2025

Volta Fóssil

 

Dá uma voltinha... vira e mexe...
Retornamos ao Inferno
Os caminhos no mundo são poucos... são breves...
Quando não se confundem, se cruzam...
& de novo, é a mesma velha estrada...
Retornamos ao Paraíso...
Temos os pés cravados como pegadas... passando por aqui & ali...
O fogo congelante... as nuvens escaldantes...
A prisão libertadora... o campo claustrofóbico...
Retornamos à Terra...
Dê uma voltinha...
Retornamos ao lar... que pertencemos... que nos pertence...



14 de mai. de 2025

Folga

 

Ao sol
No frio
Depois da superlua
É dia
Você de folga
Depois
Do garimpo
Você gasta seu ouro
Afastando por segundos
As preocupações
Você é humano
Pagando tributos
A si mesmo

As consequências
Alheias
Pouco te pertencem
Há um show
À parte
Que se desenrola
Mas você não sabe
A verdade
Há um teatro com pouco público
Que você não acompanha tudo
Você paga entrada
& sai antes do final

É dia de sol
Você percorre
As ruas
Por ali você pode andar
Shows, teatro, feiras à parte
Você curte a folga
Não envolvido em nada
Só pensa
No sagrado descanso
Das coisas em que não
Se envolveu



12 de mai. de 2025

ProCura

 

Procurando...
Cadê a palavra?
A imagem?
O sentido?

Procurando...
Onde tudo é sombra
& as sombras dançam no escuro
  esguias, alucinadas, torturadas
   com a pouca luz que vem de longe

Procurando...
Onde estão a palavras?
As imagens?
O sentido?

Procurando...
Até achar
o motivo de desistir,
A coragem agora não passa
da condição de se entregar...



10 de mai. de 2025

Hoje

 

Hoje vou escutar o silêncio das notícias
   sobre a paz no mundo
   sobre não incomodar o vizinho
   sobre como todos estão guerra...

Hoje não quero ouvir falar
   sobre os problemas alheios
   sobre a fofoca do dia
   sobre você & eu...

Hoje vou tapar os ouvidos para gritos & sussurros
   sobre as lamúrias justificáveis
   sobre as reclamações sem porquê
   sobre eu & você...

Hoje é imperativo calar a mente
   sobre rancores & amarguras
   sobre ressentimentos & vinganças
   sobre alguém & ninguém...



7 de mai. de 2025

Conclave

 

Todos reunidos
Na rinha do pensamento
Que não se cruza
Nesse combate dispar
De um mundo tecno expandido
Com alma retro atrofiadando

Os verdadeiros
  Profetas
Falavam de amor
Profetas pró-afetos
  Que nos afetam
   Pelas vias de fato
...haviam entretanto os que castigavam...
Os verdadeiros
  Poetas
Falavam de uma dor
Poetas adoradores
  Inspirados pela musa
   Castigados pelo daimon
...há porém os que amam...
Os falsos
  Profetas/Poetas
Falam de alegria & prosperidade
Anti-pró-etos
  Que espalham a praga
   Da esperança
...de espera que não chegará...



4 de mai. de 2025

Cada Dia

 

Explosões de tristeza na periferia da vida
As ondas de impacto penetram na vizinhança & chegam a mim
Como um vento triste que carrega folhas do último outono
& o som no ar é de um choro provido de incompreensão
Dos que não sabem porque suas vidas estão assim...

Cada um carrega consigo o seu núcleo de negação
Seguimos pelo mundo às cegas
Meros sonâmbulos zelando pela ignorância que nos permite seguir
Depois do dia & das novas distâncias que a vida traz
Apalpamos finalmente o que está perto
Destroços implodidos em cima dos quais temos que construir incansavelmente algo para continuarmos seguindo...



2 de mai. de 2025

Surpresas com o Tempo

 

Certamente o tempo não é como o sal,
   que conserva a carne;
Nem como o amor,
   que preserva a mente além do bem & do mal.
O tempo tem me trazido surpresas,
   à medida que ele passa;
Vai enrijecendo as pessoas,
   enquanto apodrece seus corpos.
Vai endurecendo as mentes,
   enquanto desgasta os dentes.
Ergue montanhas,
   entorta caminhos;
Cresce árvores,
   prospera os ninhos.
Aumenta a distância
   que estamos da infância,
& afrouxa os laços dos relacionamentos
   com a convivência.
O tempo certamente cobra diluição
   de quem entra em sua duração.
O futuro arauto do fim com seu princípio
   que todos desconhecem,
O presente com suas dádivas trágicas
   que poucos reconhecem,
& o passado com seu mistério velado
   pelo qual todos passaram.
Certamente no final saberemos
   que o tempo nos enganou
      ensinando uma grande verdade:
Que ele não existe,
   & só aconteceu para provar nesse devir
      que muitos de nós também falharam em existir.



1 de mai. de 2025

Rumos & Desatinos

 

O verdadeiro norte
   mudando a cada momento
& ao sul de nosso umbigo
   tudo fica fora do lugar
      de acordo com um sensor externo
         frio, calculista & magoado

O verdadeiro amor
   agora já é um velho desconhecido
Uma prática
   que esquecemos como manufaturar
      pois ninguém mais vê utilidade
         em se conhecer, só conectar



28 de abr. de 2025

Rastro de Sombras

 

Com medo de nós mesmos
Escondendo isso no ego
Seguimos tateando no labirinto
Com sinais de proíbido fosforescentes
Com medo do escuro
Mas maior medo ainda do fogo

Espera o dia raiar
Pra sair da caverna
Espera a energia voltar
Pra carregar a tela do celular
Espera a lua subir
Para ir caçar ao luar

Com medo do escuro
Aprendemos a comer luz
Nessa fome eterna
Engolindo brilho seco
Com pontas afiadas de estrelas
Deixamos rastros de sombras por onde vamos