24 de out. de 2019

Ontologia

I• QUEDA
Ali eu toquei
no fulcro que a vida faz envolver
ao acaso dos casos do belo caos...
O amor, que nunca mais direi,
me ensinou enfim
como é o anti-gozo de uma mulher...
& no grande mar de desprazer
que se abre aos nossos pés
melhorei um pouco, convulsionando...
Antes queria beber o oceano
queria caber no nada,
eu que tinha medo de me afogar
eu que tinha pânico de falta de ar...
Então aprendi o que é não ter chão
o que é um dano psicológico
o que é ter consolo dos mortos...
Ali eu toquei
& nunca fui tocado,
apenas convidado a sair.

II• KEHRE
De volta
à um pensamento destrutivo
vindo de fora...
...
O mundo justificando a fogo & sangue
o quanto o mais forte não se importa
o quanto o mais fraco pode ser desleal
o quanto o comum pode ser estúpido também
...
& ainda temos que pensar
em termos concreto
& ainda temos que caber
onde o outro está bem a vontade
Você na alegria, eu na tristeza
& ainda...
...
Cuidado com o homem comum
Cuidado com a mulher extraordinária
Cuidado com a criança mimada
Cuidado...
...
O mundo cada vez menor
quanto mais longe enxergamos
A vida cada vez mais miserável
quanto mais riquezas descobrimos
O espírito cada vez mais depredado
quanto mais buscamos o Deus
As pessoas cada vez mais solitárias
quanto mais podemos nos encontrar
...
Tristeza sem fim
Alegria instantânea
Fúria obsoleta
Concórdia artificial
...
Sair do mundo, desaparecer
assim se faz o caminho do sábio
Deixar para trás, não carregar
o peso mais pesado
...
Nunca mais ----
Nunca mais escrever a palavra ----
Nunca mais pronunciar a palavra ----
Nunca mais sentir ----
Nunca mais mais mais...

III• SER
Antes de você
eu era o que era,
uma linha continua
das coisas que (des)acreditava ser.

Com você fui algo diferente,
nem eu nem outro,
só um ensaio rápido
de ser dois & ser um;
& que agora não sou mais,
posso negar querer & querer ter sido.

Então era uma vez...
o que não fui & o que sou,
agora somente um ser
sobre ser até não ser mais
& poder estar pronto para o vir-a-ser...

Na sua lógica de vida normal
anulo meu ser, vida que cegue-me,
para caber no rasgo escuro de saída
de todo esse entriste-ser!



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